A LITERATURA NO PNLD 2023
Queridas educadoras e queridos educadores, Sabemos da correria diária de vocês, mas ficamos na torcida para que tenham um tempinho para ler aqui um pouco da nossa opinião sobre o papel da Literatura na edição de 2023 do PNLD e refletir conosco acerca de alguns subsídios e fundamentos para a escolha das obras literárias a serem usadas em seus ambientes de ensino. Bom, precisamos destacar que a maioria absoluta da nossa empresa é formada por profissionais que cumpriram todo o seu ciclo de ensino na escola pública brasileira e todos os seus gestores foram professores da rede púbica. Somos muito gratos pela formação que recebemos de profissionais como vocês e esperamos poder retribuir um pouco, da mesma forma que entendemos que os nossos anos de experiência como educadores do ciclo da Educação Básica na rede pública nos impõem um compromisso de empatia e de reflexão constante com a grande tarefa e os desafios que vocês enfrentam. Enfim, também norteamos o nosso trabalho por esse sentimento e, com olhos muito atentos, nos debruçamos sobre os documentos que normatizam o trabalho com a educação no Brasil. Aqui vamos falar especialmente da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o fundamento e as metas por trás de todos os editais de aquisição de livros pelo Ministério de Educação e por nossas secretarias estaduais e municipais. No entanto, antes de seguirmos, gostaríamos de compartilhar uma afirmação da professora Magdala Lisboa Bacha:
“[…] a leitura, como o andar, só pode ser dominada depois de um longo processo de crescimento e aprendizado.” (BACHA, Leitura na primeira série, 1975).
Essa reflexão e a imagem que ela constrói é fortemente linda e verdadeira, e, não à toa, alguns dos nossos professores são lembrados por cada um de nós a vida toda. A leitura é mesmo uma técnica a ser dominada, e, com ela, vamos longe. Quem nos ensina os primeiros passos e se mantém ao nosso lado, nos dando segurança e recursos para passadas cada vez mais largas e fortes, são vocês, professores. Recebam o nosso agradecimento. Mas vamos à fundamentação e às metas indicadas pela BNCC para o uso da literatura no processo de ensino. Já na sua Introdução e no seu primeiro parágrafo, a BNCC nos diz: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)2. Vejam bem, o destaque à expressão aprendizagens essenciais está no texto da BNCC e acreditamos que, como primeira aprendizagem essencial, estará sempre e necessariamente a leitura, não? Afinal, todos nós sabemos, e vocês mais do que nenhum outro profissional, que só o domínio integral da leitura capacita o aluno ao seu desenvolvimento pleno no processo de ensino. Como entender compreender e interagir com qualquer outra área do conhecimento sem o domínio das palavras, dos seus significados e do manejo da leitura e da escrita? O protagonismo tão desejado por todos, o protagonismo que precisamos consolidar para que cada educando haja como um cidadão responsável na sociedade só se realiza através do letramento e do seu caminhar consistente e crescente pela leitura e escrita (a devolutiva autoral de cada um). Agora, ainda na BNCC, vamos nos dedicar um pouco à análise dos fundamentos que devem ser comuns a todos os educadores e educandos no Brasil dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, exatamente o ciclo de ensino a que se destina o acervo literário que vocês irão escolher. A LITERATURA DEDICADA AOS ALUNOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL É MESMO INFANTIL, pois todo o aprendizado da criança será fundamentado em sua experiência de vida, na vivência da infância. Quando falamos em reflexão, ou seja, quando usamos expressões como “a criança irá refletir sobre”, ou ainda “o livro reflete a experiência X que as crianças vivem em suas rotinas”, estamos mesmo usando a palavra reflexo em toda a sua força significativa: a literatura infantil é um espelho crítico da vida da criança. Os pequenos leitores se reconhecem e, leitura após leitura, se superam, começando a pensar sobre si e o seu em torno em bases (reflexões) cada vez mais potentes e autorais. O primeiro ciclo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, aqui nesse Edital do PNLD 2023 relacionado às obras da CATEGORIA 1 (do 1º ao 3º Ano do Ensino Fundamental), será muito dedicado ao processo de consolidação da alfabetização, formando um leitor capaz de ir se desenvolvendo, dia após dia, como um leitor crítico e autônomo e, em citação da BNCC, “dominando o sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos”. Por isso, as obras dedicadas à CATEGORIA 1 do PNLD 2023 devem apresentar um universo crescente de recursos, linguagens, informações e interações, fixando camadas sólidas de ensino e capacitação do leitor. O segundo ciclo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, aqui nesse Edital do PNLD 2023 relacionado às obras da CATEGORIA 2 (4º e 5º Anos do Ensino Fundamental) deve apresentar uma complexidade crescente dos recursos das linguagens e proporcionar leituras e reflexões que ampliem a visão de mundo do aluno, oferecendo situações de reconhecimento do seu grupo e sociedade, o seu papel e identidade em seu mundo. Nas palavras da BNCC, “ampliam-se a autonomia intelectual, a compreensão de normas e os interesses pela vida social, o que lhes possibilita lidar com sistemas mais amplos, que dizem respeito às relações dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente”. Os educadores sabem que estão lidando com crianças que vivenciam um momento muito singular e potente de suas biografias. Aqui os nossos jovens leitores e futuros cidadãos começam a se entender indivíduos únicos e aprendizes das suas relações com os outros (e são tantos, não?, e em tantas esferas e vínculos distintos da vida!) e com o mundo (destacadamente haverá a compreensão do meio social e da natureza). No entanto, também sabemos da plasticidade lúdica que ainda acompanha essa fase da infância, com grande relevância plástica no primeiro ciclo e uma sofisticação do humor já no segundo ciclo dos Anos Iniciais. Portanto, os nossos livros, as nossas obras literárias devem proporcionar um diálogo do leitor com essa sua fase de vida, através do reconhecimento, reflexão e superação (crescimento). Realmente esses fundamentos, muito claros nos textos iniciais e mais conceituais da BNCC, orientam o nosso trabalho editorial e podemos assegurar a todos os educadores que sempre temos a sensação de estarmos trabalhando num caminho de mão dupla. E explicamos: procuramos os livros mais adequados a cada faixa etária e de ensino, orientados pelas diretrizes educacionais. Trabalhamos cada obra buscando a excelência sobre o texto, as imagens, a tipologia escolhida, a capa, o papel a ser usado no miolo. Enfim, cada detalhe é projetado com muito carinho e reflexão junto aos objetivos de formação do aluno-leitor. No entanto, cada vez que nos deparamos com um texto metodológico acerca dos fundamentos da literatura no processo de ensino e suas habilidades específicas nos lembramos das nossas obras, inclusive daquelas que fizemos antes da edição do texto específico que estamos lendo. E, com igual força, nos lembramos dos livros que lemos em nosso processo de formação escolar e de tantos outros que seguimos lendo. Realmente, vemos as nossas obras nas metas traçadas pela BNCC exatamente porque fomos formados como leitores, profissionais, atores socais e cidadãos por elas. Para compartilhar com todos essa experiência, de se (re)conhecer na literatura e de conhecer a literatura em nosso processo de ensino, destacamos, abaixo, as 10 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL. Acho que cada um de nós se lembrará de livros e autores que nos levaram a experimentar a vivência plena de cada uma das Competências:
- Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem.
- Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social.
- Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multissemióticos que circulam em diferentes campos de atuação e mídias, com compreensão, autonomia, fluência e criticidade, de modo a se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, e continuar aprendendo.
- Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos.
- Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual.
- Analisar informações, argumentos e opiniões manifestados em interações sociais e nos meios de comunicação, posicionando-se ética e criticamente em relação a conteúdos discriminatórios que ferem direitos humanos e ambientais.
- Reconhecer o texto como lugar de manifestação e negociação de sentidos, valores e ideologias.
- Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com objetivos, interesses e projetos pessoais (estudo, formação pessoal, entretenimento, pesquisa, trabalho etc.).
- Envolver-se em práticas de leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura.
- Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e realizar diferentes projetos autorais.
Cada pensamento nosso, cada sentimento, projeto, aspiração, ação e reação se traduz, em nossos pensamentos e publicamente, por palavras. Bom, ler é, portanto, aprender a ser. Obrigada a todos os educadores brasileiros que trabalham dedicadamente pela formação de seres humanos mais qualificados (individual e socialmente) e felizes.